Sebrae Delas

O futuro das empreendedoras

Fazer previsões é algo muito comum dentro do mercado empresarial. É preciso ter projeções do futuro para se planejar melhor, fazer investimentos e tomar decisões estratégicas mais assertivas. Contudo, previsões, como a própria palavra presume, são olhares sobre fatos que ainda não se concretizaram.

Quanto mais amplo é o escopo de uma previsão, mais imprecisa ela tende a ser. Mas isso pode não se aplicar ao caso que iremos avaliar neste artigo. Este conteúdo se propõe a falar sobre o futuro das mulheres empreendedoras. Um spoiler: o futuro é promissor, mas também cheio de desafios.

Para falar sobre o futuro das empreendedoras e dos negócios liderados por mulheres, precisamos tratar de diversos aspectos que se relacionam a este tema.

Não se pode deixar de lado o aspecto histórico. Precisamos também observar os panoramas sociais e o futuro das relações econômicas entre homens e mulheres. Devemos também analisar previsões sobre o mercado como um todo e como as mulheres empreendedoras se encaixam neste sentido. Por fim, concluímos nossa análise costurando todos esses temas.

Este texto não se propõe a dar um veredito sobre o empreendedorismo feminino, mas, sim, tem a função de mostrar às mulheres empreendedoras que suas trajetórias de sucesso ainda podem estar no início, e que a sociedade do futuro a médio e longo prazo pode ser bem mais receptiva aos seus investimentos.

Sem mais delongas, vamos ao artigo? Espero que você goste e aproveite bem este conteúdo. Uma boa leitura!

Um breve histórico da mulher e o mundo do trabalho

Por séculos e séculos, a ideia de mulher sempre esteve associada à maternidade, ao casamento e à gestão do lar. Da Pré-história ao período Pré-industrial, a imensa maioria das famílias era composta por um homem que caçava/pescava/cultivava/trabalhava e provia dinheiro e alimentos para o lar, além de uma mulher cuja função era ficar em casa e cuidar dos filhos.

Com o tempo, as relações de trabalho se alteraram, mas continuaram impedindo a maioria das mulheres de trabalhar fora de casa. Apenas no século XVII as mulheres começaram a trabalhar de maneira mais volumosa em indústrias. Porém, quase sempre nas áreas têxtil ou de alimentos, enquanto homens lidavam com a gestão dos negócios e indústrias mais pesadas, com maior valor agregado.

Em todo esse período, a ideia de mulher empreendedora simplesmente não existia. Na prática, a única forma de uma mulher assumir a gestão de uma empresa nessa época era se tornando viúva.

Isso começou a mudar no século XX. Ainda incumbidas da maternidade, do matrimônio e da gestão do lar, as mulheres ainda tiveram forças para lutar por direitos e conquistar maior autonomia financeira. À medida que as leis permitiram às mulheres mais direitos em todo o mundo (votar, dirigir, se divorciar), foi questão de tempo até que muitas mulheres tomassem a frente em empreendimentos de todo tipo.

As duas Grandes Guerras Mundiais balançaram o mundo todo e também mexeram nas relações empresariais. À medida que muitos homens foram para os campos de batalha, mulheres assumiram posições privilegiadas em diversas empresas, algumas em cargos de liderança.

Embora a guerra seja algo muito triste, esse foi um período importantíssimo para que as mulheres provassem ao mundo que eram capazes de trabalhar de maneira igual e até mesmo mais eficiente do que os homens em diversas funções, incluindo tarefas de liderança.

Esse foi um período em que mais mulheres começaram seu próprio negócio. Algumas por inspiração e oportunidade, outras por falta de opção: perderam maridos e filhos na guerra e agora precisavam reconstruir suas vidas.

E o Brasil, como fica nessa história toda?

O Brasil passou por um processo bem semelhante, porém de forma mais tardia. Para piorar, é preciso lembrar que passamos por um longo período de escravidão que prejudica mulheres negras até hoje.

De qualquer forma, o país viveu transições semelhantes às descritas nos parágrafos anteriores. Especialmente após o fim da ditadura militar, na década de 1980, em que cada vez mais mulheres começaram a operar empreendimentos próprios. A grande maioria pequenos e micros, mas que cresciam de maneira promissora.

Hoje, o Brasil tem cerca de 24 milhões de mulheres empreendedoras no território nacional. Os dados são da pesquisa GEM – Global Entrepreneurship Monitor, que foi conduzida pelo Sebrae.

A mulher empreendedora hoje

Como vimos, o passado das mulheres mostra que, desde já, são grandes vencedoras. Contornam dificuldades sistêmicas e biológicas para empreender e ser bem-sucedidas. Mas a mulher empreendedora não vai parar por aí.

Com base nessa mesma pesquisa citada no parágrafo anterior, vamos comentar sobre o panorama atual da mulher empreendedora. Ele já nos aponta, desde já, que boa parte das mulheres empreende pela necessidade de obter renda extra e autonomia financeira. Outra razão pela qual boa parte das mulheres decide empreender está na flexibilidade de horário que ser dona do próprio negócio permite.

Para a mulher, a flexibilidade de horário é um assunto muito importante, uma vez que 59% de nossas mulheres empreendedoras são casadas e 52% delas possuem filhos. Embora cuidar da casa seja dever tanto do marido como da esposa, as mulheres, em média, dedicam 24% de tempo a mais do que os homens nos afazeres domésticos, o que limita o tempo que a empreendedora tem para se dedicar à empresa.

Mas essas limitações não fazem a mulher empreendedora menos ousada, ambiciosa ou promissora, pelo contrário. A pesquisa mostra que a quantidade de empreendedoras com novos negócios hoje (empresas com até 3,5 anos de existência) é consideravelmente maior do que empresários homens – 15,4% mulheres contra 12,6% homens.

Em 2018, 34% dos CNPJs criados naquele ano foram abertos por mulheres. Apesar de ainda minoritárias, elas ganham cada vez mais fôlego e relevância. Prova disso é que as mulheres empreendedoras possuem, na média, mais estudo do que os empresários homens. 69% delas têm graduação ou pós. Nos homens, essa porcentagem é de 44%.

O futuro: crescimento com desafios

Como vimos, as mulheres vieram empreender e chegaram para ficar. Porém, a caminhada da mulher tem muitos desafios. Como apontado pela pesquisa GEM, 58% das mulheres começam seus empreendimentos em casa, devido à necessidade de administrar trabalho, lar e família.

Esse formato de feminilidade, baseado em gestão doméstica e familiar, ainda deve perdurar por algum tempo. Isso tem levado 49% das mulheres a abrir negócios sem planejamento, enquanto 72% delas não se sentem seguras em relação às próprias finanças.

Empreender é uma ação com riscos para todo mundo. Porém, as mulheres enfrentam riscos diferentes que exigem posturas igualmente inovadoras. Por isso, vamos falar das tendências do empreendedorismo feminino no futuro.

Maternidade tardia e menos numerosa

Hoje, as mulheres têm menos filhos. Isso tem a ver com o fato de a maioria das pessoas morar nas cidades e o custo de criar um filho ser muito alto. Mas também está relacionado à postura de cada vez mais mulheres priorizarem seus estudos, seus negócios e suas carreiras para depois decidir consolidar uma família, já estabilizada economicamente.

Em 1960, a taxa média de fecundidade do Brasil era de 6,3 filhos por mulher. Hoje, a taxa gira em torno de 2 filhos por mulher, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

Isso se aplica em menor medida às mulheres mais pobres e com menos estudos, mas mesmo essa faixa da população também tem tido menos filhos, ao passo que se dedicam mais às suas empresas. O resultado provável disso é o aumento de mulheres empreendedoras no mercado nacional e internacional.

Menor dependência do marido

Como apontamos em nosso apanhado histórico, as mulheres, além de serem “esposas, do lar e mães”, agora também são tudo isso, acrescido de empreendedoras ou trabalhadoras.

Se por um lado as mulheres se cansam muito fazendo jornadas duplas ou até triplas de trabalho, por outro tornam-se independentes financeiramente de seus maridos e, por isso, podem investir em seus próprios negócios.

Ainda existe a figura do antigo casamento tradicional, no qual a mulher não trabalha fora de casa, mas esse modelo de relacionamento conjugal diminuiu bastante, seja por hábitos, seja pelo crescimento no número de divórcios, ou até mesmo pela necessidade financeira de o casal gerar mais renda.

A menor dependência do marido é outro indício de que o empreendedorismo feminino deve crescer no país.

Mulheres apoiam mulheres

Essa é uma razão mais social pela qual o empreendedorismo feminino deve crescer: a consciência de classe das próprias empreendedoras. É crescente o número de influencers, personalidades, celebridades e outras mulheres famosas que pregam a ideia de “apoie uma mulher”.

Ou seja, incentivar mulheres a consumir de outras empreendedoras. Preferencialmente, pequenas ou microempreendedoras de alcance local. E cada vez mais gente – homens e mulheres – têm abraçado a causa de confiar e estimular o empreendedorismo feminino.

Redução de estigmas e preconceitos

Associada à ideia de apoiar um empreendimento feminino, é notável também a redução do preconceito de gênero em relação à mulher empreendedora. Cada vez mais, essas donas do próprio negócio são respeitadas por seus pares, pelo público, pela imprensa e pelo poder público.

Um exemplo claro da redução desse preconceito é a empresária Luiza Trajano, cuja fortuna está avaliada em mais de 2,5 bilhões de dólares, segundo a Forbes. Além do imenso sucesso financeiro, Luiza é um exemplo de mulher respeitada no mercado que incentiva outras mulheres e que luta contra o machismo diário.

Desafios a superar

O crescimento do empreendedorismo feminino é latente. Mas ele não acontece sem percalços. Há desafios tremendos para ser superados.

Machismo

O machismo, infelizmente, prejudica as mulheres de diversas maneiras. Mas uma das formas mais perceptíveis pela qual o machismo se aplica está nas finanças. Segundo o IBGE, as mulheres recebem, em média, 20% a menos do que os homens em todos os setores, incluindo a gestão empresarial.

Há vários motivos para isso acontecer, mas eles estão certamente evidenciados em um machismo que promove o preconceito contra negócios tocados por mulheres, maridos que controlam os recursos de suas esposas e rotinas domésticas que consomem energias e reduzem o tempo disponível para a mulher empreender.

Coronavírus

A pandemia do novo coronavírus trouxe severos prejuízos à economia de todos os países. A Covid-19 acertou o Brasil em cheio. Como resultado, milhares de empresas já fecharam as portas e outras devem passar por grandes dificuldades no futuro.

Em um cenário no qual menos de metade das mulheres empreendedoras planejam seus negócios, é provável que a maioria desses empreendimentos sem planejamento passe por dificuldades financeiras, administrativas e comerciais. Será preciso força de vontade, estratégia e consultoria especializada para vencer esse turbilhão.

Falta de preparo

Mesmo com mais estudos, a minoria das mulheres tem capacitação específica na gestão de empresas. Isso acontece porque boa parte das empreendedoras entra no mercado empresarial por necessidade, e não por vontade própria.

Embora haja vários exemplos de mulheres que entraram no empreendedorismo “de paraquedas” e depois tiveram sucesso, a falta de preparo e capacitação é um desafio muito sério que só poderá ser superado com estudo e vivência prática.

Porém, nossa previsão é otimista, uma vez que cada vez mais mulheres terão acesso a conteúdos e ações voltados ao empreendedorismo feminino. O Sebrae Delas, por exemplo, faz parte desse processo.

Conclusão

Não se pode falar da mulher empreendedora sem falar de força, de resistência, de criatividade, ousadia e serenidade. Passamos por um momento-chave na qual as mulheres estão cada vez mais tomando as rédeas da própria vida e utilizando essa autonomia para empreender.

O mundo está mais amigável às mulheres empreendedoras. O mercado também está mais receptivo, à medida que cada vez mais clientes se interessam por empresas femininas. O grande desafio agora é resistir às pressões (e depressões) da economia e se reinventar para produzir cada vez mais.

Além disso, é preciso resistir e combater diariamente o machismo que ainda é um peso nos ombros da mulher empreendedora. É preciso entender a necessidade de apoiar outras mulheres e se capacitar profissionalmente.

O futuro da mulher empreendedora pode ser incrível. Basta investir, empreender, resistir e crescer. Você consegue, mulher!

Referências:

https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-03/pesquisa-do-ibge-mostra-que-mulher-ganha-menos-em-todas-ocupacoes#:~:text=Um%20estudo%20feito%20pelo%20Instituto,que%20os%20homens%20no%20pa%C3%ADs.

https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/taxa-fecundidade-no-brasil.htm#:~:text=De%20acordo%20com%20dados%20divulgados,para%20compensar%20os%20indiv%C3%ADduos%20que

http://www.ibqp.org.br/gem/?gclid=CjwKCAjw8df2BRA3EiwAvfZWaOE7PUVpQMXMgMopZF3cmB68G_G3ezy9Ojkl8GSYxhDcrYWlibDxtBoCFtQQAvD_BwE

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